Será que ainda existe espaço para o Hard Rock no mundo da música??

7 02 2008

Estilo de música que teve o seu apogeu nos finais dos anos 80, hoje em dia é por muitos parodiado. Longe do glamour e das vendas de discos astronómicas a que teve direito quando era o género musical mais apreciado e comercializado à face da terra, acabou por ter o mesmo destino a que foram votadas as outras subculturas. Como se já não fosse estranho ver na mesma frase os termos Hard Rock e subcultura, mais estranho ainda é falar-se neste estilo musical actualmente quando o que domina as atenções são estilos como hip-hop e música electrónica, e até mesmo para os apreciadores de Rock ou Heavy Metal os termos Emo, Alternative ou Math são mais comuns hoje em dia. Nada contra estes estilos, que isto fique claro, apenas acho que há espaço para todos os gostos e não posso deixar de me insurgir contra o facto de ver os gostos massificados nos meios audiovisuais a que temos direito, onde não há muito lugar para a diversidade, salvo algumas excepções. Por isso tem sido com bastante agrado que tenho verificado nestes últimos tempos, por entre os fóruns de música que tenho visitado, ainda existirem bastantes fãs de Hard Rock, alguns de idades tão tenras que ainda passeavam de testículo em testículo ou borravam alegremente as fraldas aos papás quando a maior parte das bandas de que são fãs andavam a dar música ao mundo, em harmonia com outros mais “velharucos”, partilhando gostos e conhecimentos. Num desses fóruns mais activos, o final de 2007 trouxe os habituais debates acerca de quais teriam sido os melhores lançamentos nesse ano, e ao que parece a “colheita” de 2007 não terá sido má de todo. O resultado foi a elaboração de uma lista que poderá servir de referência aos apreciadores deste estilo mais desligados nos últimos anos devido às vicissitudes da vida ou àqueles mais curiosos que sintam a necessidade em conhecer o que se tem passado na cena, acentuando que se trata da opinião de fãs e não de críticos de música. Os nomes indicados são bastante variados e em número suficiente para agradar a todos os gostos, desde os apreciadores mais exigentes do Hard Rock de sonoridade mais agressiva, passando pelo Glam Rock mais “sleazy” até ao AOR mais acessível

Crashdiet – Unattractive Revolution
Scorpions
– Humanity Hour I
Joe Lynn Turner
– Second Hand Life
Burn
– Global Warning
The Poodles
– Sweet Trade
Last Autumn’s Dream
– Saturn Skyline
Ted Poley
– Smile
Stan Bush – In This Life
Gotthard – Domino Effect
Richie Kotzen
– Return Of The Mother Head’s Family Reunion
Ken Hensley – Blood On The Highway
White Wolf
– Victim Of The Spotlight
Two Of A Kind – Two Of A Kind
Russel Allen / Jørn Lande – The Revenge
Voices Of Rock – MMVII
David Readman – David Readman
WildKard – Megalomania
II Guys From Petra – Vertical Expressions

Dos nomes indicados, dentro daquilo que ouvi, o meu destaque vai para os seguintes trabalhos:

Richie Kotzen – Return Of The Mother Head’s Family Reunion
Richie Kotzen

Nome relativamente desconhecido para a grande maioria do público português, é com espanto que vejo este músico permanecer no anonimato, isto é, no que ao nosso país diz respeito… Aqueles mais familiarizados com a cena Hard Rock poderão reconhecer o nome em trabalhos das lendárias bandas do género Mr. Big e Poison, onde este músico teve a ingrata tarefa, por razões diferentes, de substituir o fabuloso Paul Gilbert e o carismático C.C. DeVille, respectivamente. Verdade seja dita, o guitarrista até nem se safou mal em qualquer uma destas posições, obrigando ainda, no caso dos Poison, a assinar aquele que é provavelmente o trabalho mais ousado e sério da banda, muito graças às suas influências na composição da música. Eu próprio reconheço que só recentemente entrei em contacto com a música deste senhor, muito devido às minhas divagações por fóruns onde o seu nome aparece com bastante insistência na secção Hard Rock. Estamos a falar de um músico que já leva cerca de 25 (repito, 25!!!!!!) trabalhos editados e uma linha de guitarras e amplificadores da Fender com a sua assinatura. A variedade musical nos seus trabalhos também é notória, onde temos álbuns cheios de virtuosismo à melhor tradição dos “guitarristas dominarão o mundo”, a outros onde o blues e o jazz de fusão são reis, contando-se ainda com colaborações com músicos como Greg Howe e a lenda viva do jazz norte-americano Stanley Clarke. Pois bem, quando em 2007 Richie Kotzen anunciou que iria dar continuidade ao disco lançado em 1994 intitulado Mother Head’s Family Reunion, a reacção de entusiasmo por parte dos seus fãs foi algo comparável (e passo a citar um desses fãs…) ao anúncio do regresso da formação original dos Guns N’ Roses com o lançamento de novo álbum intitulado Appetite For Destruction Pt. II. Esta afirmação, exagerada para uns ou irrelevante para outros, serve apenas para ilustrar o impacto que a música deste senhor tem em inúmeros fãs de Hard Rock espalhados pelo globo. Tendo por base um Hard Rock de primeira qualidade, Kotzen junta-lhe paladares extra retirados directamente do Blues, Jazz, Funk e Soul para criar uma fusão de sabores cheias de groove e sentimento que encontram a sua morada em canções, na verdadeira acepção da palavra, que flúem naturalmente nos pavilhões auriculares do ouvinte. E é de louvar ver um músico deste calibre compor música sem se deixar enlear nas teias do tecnicismo e virtuosismo sem sentido, optando por dar primazia a canções de qualidade, por mais simples que sejam. Sem mais palavras, aconselho apenas a que dêem uma audição neste disco e tirem as vossas próprias conclusões.

http://www.richiekotzen.com/
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendID=10066334

Russel Allen / Jørn Lande – The Revenge

Allen Lande

Dentro de um espectro mais pesado no Rock, o ano de 2007 viu o lançamento do segundo álbum da associação entre dois dos mais conceituados vocalistas da actualidade: Russel Allen e Jørn Lande. Russel Allen é conhecido por ser vocalista da banda de Metal Progressivo americana Symphony X, a qual integra desde 1995. Jørn Lande é um prolífico vocalista que para além de possuir já uma extensa carreira a solo, tem exercido o seu talento vocal em inúmeros projectos dentro do Heavy Metal, Hard Rock e Progressivo, sendo os de maior destaque Vagabond, Masterplan e ARK. Ambos reúnem-se pela segunda vez para a gravação de The Revenge, um excelente álbum de Hard N’ Heavy. A criação deste projecto deve-se ao talento de Magnus Karlsson, guitarrista, compositor e músico residente dos projectos The Last Tribe e Starbreaker, o qual é o responsável pela composição das músicas cantadas por Allen e Lande, proporcionando o território perfeito para os dois vocalistas demonstrarem os seus enormes talentos como intérpretes, tanto em músicas onde cantam isoladamente como em duelos de vozes noutras, em linhas vocais bastante variadas. Se já o primeiro álbum (The Battle, de 2005) tinha deixado qualquer fã do género a salivar por mais, este novo lançamento não deixa os créditos em mãos alheias e volta a deixar em patamar elevado os padrões de qualidade. O álbum é composto por 12 temas maioritariamente a meio-tempo mas onde há espaço também para músicas rápidas e pesadas e para clássicas baladas, repletas de sentimento. Como principal factor para a qualidade do projecto prende-se o facto de este álbum não se resumir a uma simples reunião de duas vozes que são referência no metal mundial, apresentando músicas onde as linhas vocais se encontram em harmonia com um estilo simples e ao mesmo tempo arrojado, com refrões extremamente bem concebidos e empolgantes, influências progressivas, de metal melódico e rock anos 70’s. O resultado é um óptimo disco de rock capaz de prender o ouvinte durante largo tempo numa rede de melodias e linhas vocais que permanecem na memória e nos obrigam a ouvir novamente. Sem dúvida, uma peça de fino Hard Rock que não destoará quando posto ao lado dos CD’s do género nas vossas discografias.

http://www.myspace.com/allenlande2

Scorpions – Humanity: Hour I

Scorpions

Mais um disco para a já longa carreira destes veteranos do Rock. Estamos perante uma banda que dispensa qualquer tipo de apresentação e que merece todo o respeito e reverência dos fãs de Hard Rock pela carreira desenvolvida, iniciada nos já há muito idos anos 70, e pelos álbuns de elevada qualidade que souberam produzir. No entanto, verdade seja dita, a carreira da banda nos últimos anos dava indícios de acusarem algum desgaste e de perder a pujança demonstrada nos álbuns lançados nos finais dos anos 70 e princípios dos anos 80, optando por uma postura bastante colada à Pop mais acessível e perdendo-se em experimentações de sonoridades às quais não estão habituados, com consequências um tanto ou quanto inquietantes. Tendo em conta tal situação, a pergunta que se coloca é se um novo álbum desta banda continuará a ser relevante actualmente? Já lá vamos… Após uma longa travessia pelo deserto criativo, o ano de 2004 vê a banda pôr a “azeitice” um pouco de lado e voltar a ganhar alguma da sua força antiga com o lançamento de Unbreakable. Este novo álbum é um digno sucessor de Unbreakable, resultando de uma colaboração entre a banda e os produtores James Michael e Desmond Child (este último conhecido por ser um autêntico “hitmaker”). O tema-título abre o álbum mostrando todo o peso que a banda voltou a injectar na sua sonoridade, com uma bateria forte e riffs de guitarra de toada grave e som bastante comprimido, com a voz característica de Klaus Meine lá no topo do bolo ainda bem conservada, embora já não se oiçam os registos mais agudos de outros tempos. Dado o mote, o resto do álbum é um desfilar de músicas com óptimos refrões (destaque desde já para The Game Of Life, com um refrão do tamanho do mundo) e carregadas de melodias cantaroláveis, misturada com baladas de elevada sensibilidade Pop. De facto, a banda consegue criar um bom equilíbrio entre o Hard Rock de contornos Heavy e o Rock de contornos Pop que produziu ao longo dos anos 90 até aos trabalhos mais recentes. Espaço ainda para alguns convidados, nomeadamente Eric Brazilian na guitarra em Love Will Keep Us Alive e Billy Corgan com vozes em The Cross. Voltando à questão anteriormente colocada… Humanity: Hour I é sem dúvida um álbum capaz de agradar aos fãs de Scorpions, inclusive aos mais exigentes, embora estejamos longe de um Blackout, álbum clássico da carreira destes alemães. Será que se pode exigir mais de uma banda com mais de 30 anos de carreira do que continuar a produzir álbuns uns furos acima da média?? Apesar de tudo, este trabalho consegue ser um dos melhores de 2007 dentro do género…

http://www.the-scorpions.com/
http://www.myspace.com/officialscorpions

the_passenger