Lions for lambs ou …como fazer um filme odiado por todos porque temos medo de nós próprios

4 02 2008

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Pois é…

É uma verdadeira chatice quando grandes filmes são produzidos, realizados e interpretados por ícones do star system de Hollywood. Actores como Robert Redford, Meryl Streep e até Tom Cruise dão o corpo ás balas num filme que sendo difícil de justificar aqui na segurança e pacatez do nosso país, então numa sociedade como a norte-americana é difícil de conceber.

Este filme, que foi um fracasso no box office, sendo à primeira vista inspirado na tradição liberal de Hollywood, de questionar e desmontar os vício e hipocrisias de uma sociedade (para eles…) em decadência é , na realidade muito mais que isso.

Este filme é sobre escolhas.

Escolhas que nós enquanto indivíduos e enquanto sociedade temos de fazer. Escolhas difíceis, não entre o bem e o mal, como a personagem de Tom Cruise pensa fazer, mas sim entre dois males, entre sacrificar as vidas dos nossos semelhantes ou sacrificar o futuro do nosso país. Escolhas que o são na realidade e não apenas educated guesses, feitos a partir do conforto de uma Europa que aponta o dedo, mas não se envolve, que julga mas não apoia, que critica mas não soluciona.

Estas escolhas são mais dramáticas, quão mais individuais são. Robert Redford, como realizador é frequentemente observado como um cineasta menor, mas aqui prova o contrário. É dos dilemas e dos choques de valores individuais que chegamos aonde temos medo de chegar…

As personagens fazem as perguntas que como sociedade temos medo de sequer as pensar. A crítica de Redford é mais profunda que o habitual cliché BUSH=MAU. Também lá está essa critica, mas a verdaeira crítica vai para nós, enquanto seres humanos, possuidores de livre arbítrio, que devido a uma opulência cada vez maior da nossa sociedade, que nos amolece e nos impede de lutar por aquilo que considermos de fundamental.

Se esta crítica tem relevo numa sociedade com a dos EUA então o que dizer das sociedades com a nossa. Em que tudo temos garantido, em que tudo pode ser adiquirido, em que a noção de sacrifício é já distante e demodé.

Aqui e na Europa criticamos mas não solucionamos, indignamos mas não agimos. Quando chegamos ao bottom line, como no Kosovo, temos sempre um chapéu de chuva transatlatico que nos protege, mas do qual secretamente não gostamos e do qual escarnecemos.

Enquanto a Europa não apanhar o comboio da história, seremos sempre apenas como aqueles alunos do filme que tentam desmontar as ideias dos outros.

Quando nada mais houver a dizer e a analisar, o que fazer?

É esta pergunta que marca o filme, que marca a acção das personagens. 

O QUE FAZER?

Por isso o que somos, quem somos é sempre, sempre definido pelas escolhas que fazemos e quanto mais estas forem difíceis de fazer, mais importantes estas se tornam.

ps: rever este filme daqui a 10 anos e perguntar onde estão os restantes filmes de 2007 que foram campeões de bilheteiras